Entenda como a biodiversidade pode afetar, ou contribuir, com seu negócio.
“6.5 milhões de hectares de florestas naturais foram perdidas por ano entre 2010 e 2015. Manguezais declinaram em 20% entre 1980 e 2005” (OECD,2019).
“70 a 90% dos corais correm risco de desaparecer até 2050” (IPCC,2007).
“Desde 1970, 60% da população global de vertebrados desapareceu e mais de 40 % das espécies de insetos segue o mesmo caminho” (OECD,2019).
“O antropoceno escreve uma história de emissão de CO2 10 vezes mais rápida que a média terrestre” (NASA).
Mas como isso impacta seu negócio?
O dilema é simples: ambientes estáveis e equilibrados são fontes de diferentes recursos – Serviços Ecossistêmicos. Por conseguinte, são a base para a atividade industrial e a manutenção do bem-estar humano.
Assim sendo, os investimentos e a cadeia de valor de cada instituição se correlacionam com a natureza, por exemplo, o extrativismo intenso, o acúmulo de resíduos e as emissões de gases de efeito estufa são as principais devoluções da prática industrial para o ambiente, contribuindo, assim, para a degradação ambiental e consequente declínio na provisão de recursos.
Sob uma visão macro, ao estabelecermos políticas ambientais precisamos levar em consideração as s 5 principais fontes de pressão na perda da Biodiversidade, categorizadas pela Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES-sigla em inglês):
- Mudança no uso do solo e dos oceanos;
- Superexploração de organismos;
- Mudanças climáticas;
- Poluição e
- Espécies invasoras
Consequências alarmantes
De acordo com o Fórum Econômico Mundial (WEF- sigla em inglês), mais da metade do PIB mundial (cerca de $ 44 trilhões de dólares) estará ameaçado devido sua relação de dependência com a biodiversidade e de seus serviços ecossistêmicos.
Enquanto isso, o relatório para o setor de negócios desenvolvido pela The Economy of Ecosystems and Biodiversity (TEEB) mapeou as principais tendências de riscos envolvidas no processo de perda da biodiversidade e dos ecossistemas, classificados em:
- Operacional;
- Regulatório;
- Reputação;
- Financeiro e
- Mercado e Produto
Já as consequências práticas são as mais distintas, podendo ir desde a perda de mercado consumidor à escassez de matéria-prima e embargo legislativo. Todavia, empreendimentos que possuírem uma estratégia que integre os ecossistemas e a biodiversidade ganharão vantagem competitiva, uma vez que tornam-se capazar de garantir a manutenção a longo prazo do estoque de matéria-prima, a integridade operacional e segurança para o trabalhador, o ganho de novo mercado consumidor, a antecipação de regulamentações, a viabilização de acordos internacionais, entre outros.
Existem barreiras para a integração da biodiversidade na estratégia da empresa?
Por vezes a biodiversidade é considerada apenas responsabilidade do Estado e de isenta preocupação para o setor privado. Entretanto, como os ecossistemas são formados e sustentados por uma rede de interações, a busca pela expansão de um único serviço pode afetar a provisão de outros.
Assim sendo, é fundamental que a biodiversidade seja considerada como critério para a tomada de decisão, tanto no âmbito público, como no privado. No entanto, sua integração no planejamento e na estratégia de mercado perpassa diversos desafios. O mais relevante é a dificuldade de se estabelecer métricas, uma vez que há várias fontes de pressão, com diferentes graus de impacto sobre os recursos naturais.
Outro ponto a ser considerado é a função de incentivo protagonizada por atores públicos e por agências financeiras. Essas instituições podem ser alavancas para o processo de transição ambiental das empresas e fonte de fomento da competitividade no mercado, além de impulsionarem a replicação por outros agentes.
Como está o cenário atual?
Apesar das barreiras para a internalização da biodiversidade como indicador e ainda lento avanço no cumprimento de acordos internacionais, como as Metas de Aichi, o atual cenário apresenta-se bastante otimista. A crise da Covid-19 trouxe luz para a discussão do papel da biodiversidade na integridade e resiliência de nosso sistema social e de produção, propiciando, assim, destaque para diversas iniciativas. Exemplificando, importantes atores do setor econômico já se articulam, inclusive, na integração e mensuração dos impactos da variável climática e de biodiversidade nas carteiras das instituições financeiras. Há grupos de trabalho, como o Taskforce for Nature-Related Financial Disclosure (TNFD), em busca ativa pela inclusão da lente da biodiversidade na modelagem de risco através da mensuração do impacto de seus investimentos.
Aqui no Brasil
No Brasil, atores estratégicos, como o Banco Central do Brasil (BC), têm se posicionado quanto à importância da integração da pauta ambiental.
A nova agenda lançada pelo BC, em 2020, incluiu a dimensão sustentabilidade, e trouxe uma nova visão da questão para o ambiente financeiro.
Além disso, em julho deste ano, os três maiores bancos privados do Brasil: Itaú, Bradesco e Santander lançaram um plano conjunto para o desenvolvimento sustentável da região Amazônica, com indicação de três fontes prioritárias de investimentos para a região:
- conservação ambiental e desenvolvimento da bioeconomia;
- investimentos em infraestrutura sustentável e
- garantia dos direitos básicos da população da região.
Ao mesmo tempo, a interação da atividade econômica com a biodiversidade está cada vez mais clara e difundida. Se considerarmos o mapeamento apresentando em estudo do WEF, até 2030 os setores de:
- uso do solo, oceanos e alimentos podem gerar até US$ 3.625 bilhões, além de fornecer 191 milhões de empregos;
- infraestrutura pode render até US$ 3.015 bilhões e fornecer cerca de 117 milhões de empregos e
- energia e extrativismo poderão gerar cerca de US$ 3.530 bilhões e dispor de aproximadamente 87 milhões de postos de trabalhos.
A janela de oportunidade para agir é agora, assim como a decisão por esperar pela pressão externa, ou de ser um protagonista nesse novo cenário econômico que se modela.
E a sua empresa, vai ficar parada?
Participaram da produção desse conteúdo a equipe da I Care & Consult:
- Deborah Silva
- Rebeca Orosco
- Bianca Silva
Referências:
- A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade: Relatório para o setor de negócios, TEEB (2010)
- Biodiversity: Finance and the Economic and Business Case for Action, OECD (2019)
- Fourth Assessment Report, IPCC (2007)
- New Nature Economy Report II: The Future of Nature and Business, WEF (2020)
- https://climate.nasa.gov/evidence/
Autor
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Leonardo é um arquiteto que só queria desenhar casas e cidades, mas ao longo da carreira acabou descobrindo que dava pra fazer muito mais. Sua empresa, a I Care & Consult, acompanha empresas e setor público na construção e implantação de uma estratégia de transição ecológica, em busca de um futuro menos dependente dos combustíveis fósseis, mais inclusivo e resiliente.
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