Eram 14h30, de um dia de outubro, no Pantanal, quando o barco que estávamos silenciou no meio da baía do rio Mutum. Sem o barulho do motor e com total percepção e dedicação aos sentidos, me vi rodeada e entregue ao divino. Tocaram em mim, de uma só vez, os 4 elementos: água, terra, fogo e ar.
Havia ali, naquele momento, a junção de fortalezas intensas, diversas e complementares. E era tudo aquilo que eu precisava. Respirei e agradeci. Senti Deus em todo o meu corpo e em todo lugar. De repente, o motor retornou e, com essa completude, seguimos viagem.
Nosso destino era uma comunidade ribeirinha que vive às margens do Rio Cuiabá. Famílias inteiras, que há décadas se relacionam e sobrevivem do Pantanal, nos esperavam para contar o que têm percebido no bioma nos últimos anos. Habitavam ali, mais de 300 pessoas com histórias e práticas de equilíbrio entre a natureza e o homem.
Relação com a terra
“O homem é parte daqui. Ele não é o dono”. Essa fala é de Dona Maria, dita categoricamente, como se realmente, não houvesse outra forma de troca com o meio ambiente, se não a de harmonia.
Por 20 anos ela é pescadora e nunca pensou em mudar de vida. Pescava, limpava, cozinhava ou vendia por ali mesmo. Hoje é diferente: “Não tem mais peixe. Planto mandioca pra gente comer. Se há 10 anos eu pescava 15 peixes por dia, hoje são 2, 3, quando estou com sorte”.
Nos afastamos da máxima que os moradores da comunidade tanto carregam na prática: “a terra dá o que a gente precisa”. Eles conhecem e reconhecem a importância da vida que ecoa de todos os cantos do Pantanal. Nós, não.
Para dona Ana, que também mora na região, a relação com a terra precede às transações capitalistas: “de dinheiro a gente precisa sim, mas aqui é mais fácil plantar e colher do que sair pra trabalhar, ganhar dinheiro e comprar comida. Acho que vocês, da cidade, que estão de longe, não conseguem entender o que é isso aqui e, por isso, fazem o que fazem ou deixam acontecer o que vem acontecendo”.
Não conseguimos entender mesmo.
Neutralização de comportamentos
Existe um termo da psicologia que diz da naturalização e automatização de comportamentos que são nocivos às pessoas e à sociedade: normose.
Imagine só: você precisa alimentar você e seus filhos. Você escolhe o local para fazer a compra. Na prateleira, várias opções do mesmo produto e todos, absolutamente todos, apresentam um selo comprovando que aquele alimento foi alterado da sua forma original. Não há comprovação de que essa alteração faça bem à sua saúde e a dos seus filhos. E aí? O que você faz? Compra, mesmo sabendo que pode não fazer bem. Estamos naturalizando, há anos, um comportamento que pode ser nocivo ao nosso bem maior, à vida. Esse é só um exemplo.
O ser normótico
Ser normótico é viver uma vida tão automatizada que não cabe o questionamento para aquilo que nos adoece e entristece. Eu te pergunto: em que momento da humanidade, a relação com o natural, com o nosso instinto primitivo, com os elementos da terra, perderam o sentido? O que nos falta para cuidarmos da nossa casa? Do ambiente que fazemos parte? De nós? Em que momento, perdemos a conexão com aquilo que nos abastece de vida?
O sentido está dentro de cada um de nós. Respire, conecte-se com o mundo ao redor e, então, responda.
Foto: Bruno Mees
Autor
-
Jornalista, Psicopedagoga, Especialista em Responsabilidade Social e (finalizando) Gestão Ambiental. Fundadora da empresa Sair do Casulo e da loja que leva o mesmo nome. 15 anos de trabalhos e estudos em impacto social e ambiental. Líder Climática. Multiplicadora B. Mestre em Reiki. Escritora e cantora. Mãe do Pedro e da Lorena. sairdocasulo.com.br
Ver todos os posts