O One Planet Summit é uma plataforma de compromissos para o enfrentamento da crise climática liderada por Emmanuel Macron, Presidente da República Francesa, António Guterres, Secretário Geral das Nações Unidas, e Jim Kim, Presidente do Grupo Banco Mundial. Anualmente, desde 2017, quando ocorreu sua primeira edição, líderes políticos, tomadores de decisão, fundações, ONGs e cidadãos se reúnem a fim de identificar e acelerar o financiamento para soluções climáticas. O evento é uma importante oportunidade de fortalecer compromissos e mobilizar o setor público, privado e atores financeiros em esforços colaborativos para alcançar os objetivos do Acordo de Paris e intensificar a transição ecológica do nosso (único) planeta. Neste ano, em especial, a quarta edição do One Planet Summit, sediada em Marselha, na França, teve foco na temática da biodiversidade.
Mas por que o foco na biodiversidade?
A crise sanitária decorrente da pandemia, a qual enfrentamos desde 2019 e que já devastou mais de duas milhões de vidas em todo o mundo, nos fez relembrar a nossa dependência da natureza. Como bem apontado pelo Príncipe de Gales durante o evento: “A interdependência entre a saúde humana e a saúde planetária nunca esteve tão clara”.
O Relatório de Avaliação Global sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (2019) lançado pela Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) alerta que cerca de 1 milhão de espécies vegetais e animais estão ameaçadas de extinção, sendo que muitas serão efetivamente extintas dentro de décadas.
A perda de habitat, proveniente de fatores como a degradação do solo e dos habitats aquáticos, e o desmatamento são alguns dos principais propulsores da crise da biodiversidade. Essa destruição protagonizada pela atividade antrópica contribui para a aceleração da mudança do clima e aumenta nossa exposição a patógenos anteriormente isolados em um determinado ambiente, podendo desencadear a propagação de zoonoses e o surgimento de pandemias, como a do COVID-19 causada pelo vírus SARS-CoV-2.
Somado a isso, o relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e da Convenção Sobre Diversidade Biológica (CDB) lançado em 2020, o Global Biodiversity Outlook 5, alerta para o fato de que, a nível global, nenhuma das 20 Metas de Aichi para a biodiversidade foram totalmente alcançadas no período de 2011 a 2020.
Agir é imperativo
Frente a um cenário tão desafiador que coloca em xeque nosso bem estar e das futuras gerações, se torna imperativo acelerar nossa transição ecológica, integrando aspectos climáticos e da biodiversidade no cerne do nosso modelo de desenvolvimento. A integração dos mais diferentes atores, nos diferentes setores de nossa sociedade se faz cada vez mais urgente, a fim de que ações coordenadas possam impulsionar a mudança de paradigma que tanto precisamos, bem como a implementação de soluções efetivas de resposta a essa crise.
Nesse contexto, o One Planet Summit abordou 4 temas principais e 9 iniciativas para a proteção da biodiversidade, sendo algumas delas resumidas abaixo:
Tema 1: Proteção dos ecossistemas terrestres e marinhos
Nesse tema, a França e a Costa Rica lançaram a High Ambition Coalition for Nature and People, que já reúne mais de 50 governos, de 6 continentes, com o objetivo de promover um acordo global para proteger pelo menos 30% das terras e 30% dos oceanos do planeta até 2030. Além disso, foi confirmado pela Alemanha o lançamento do Legacy Landscape Fund, coalizão público-privada global que visa fornecer financiamento sustentável para as áreas protegidas em países em desenvolvimento.
Tema 2: Promoção da agroecologia
A iniciativa “Great Green Wall Accelerator” (GGW Accelerator) também foi lançada na ocasião, com o intuito de catalisar os esforços financeiros para restaurar e preservar as áreas agrícolas africanas do Sahara e do Sahel, contribuindo para a geração de empregos e para a segurança alimentar da população. O presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, destacou, durante o evento, que “A iniciativa é também uma fonte de esperança de um futuro melhor com todas as diferentes formas de transformação que ela traz”.
Tema 3: Financiamento para a biodiversidade
Foi anunciada a Natural Capital Investment Alliance, composta por atores do sistema financeiro, com o objetivo de investir 10 bilhões de dólares até 2022 em capital natural, integrando os riscos e oportunidades em biodiversidade ao sistema financeiro.
Outra iniciativa ressaltada no evento foi a Taskforce on Nature-related Financial Disclosure (TNFD) que visa o desenvolvimento de uma estrutura para as instituições financeiras possam avaliar os riscos, impactos e dependências das atividades econômicas em relação à biodiversidade.
Tema 4: Proteção de florestas, espécies e da saúde humana
Foi lançada, ainda, a Preventing Zoonotic Diseases Emergence (PREZODE), com vistas a estabelecer cooperação internacional entre atores de pesquisa e redes de vigilância em saúde, a fim de minimizar os riscos de surgimento de novas pandemias oriundas de zoonoses.
2021: ano chave para a biodiversidade
O Secretário Geral da ONU, António Guterres, destacou em sua fala no One Planet Summit que “2021 deve ser o ano para reconciliar a humanidade com a natureza”. O colapso da biodiversidade deve ser enfrentado urgentemente. Hoje, agora, em 2021.
É importante que seja dada continuidade às discussões já fomentadas, como as abordadas no One Planet Summit, e que iniciativas como as que foram apontadas sejam exemplo para criação de mais respostas eficazes à crise da biodiversidade.
Aguardamos, ansiosos, pela Conferência das Partes (COP 15) da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), em maio, que será uma das mais importantes até hoje. Neste ano crucial para o destino do planeta e das nossas vidas, será definida a estratégia global e as metas para o Marco Pós-2020 de biodiversidade.
Estamos prontos para lutar por nossa vida na Terra?
Participaram da produção desse conteúdo a equipe da I Care & Consult:
Déborah Luisa Lucas da Silva Zanini
Bianca Flávia de Lima Silva
Rebeca Tricarico Orosco
Mais informações e referências
https://www.oneplanetsummit.fr/en
https://www.hacfornatureandpeople.org
https://www.greatgreenwall.org/about-great-green-wall
https://naturalcapital.finance/
http://www.fao.org/news/story/pt/item/1368868/icode/
Autor
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Leonardo é um arquiteto que só queria desenhar casas e cidades, mas ao longo da carreira acabou descobrindo que dava pra fazer muito mais. Sua empresa, a I Care & Consult, acompanha empresas e setor público na construção e implantação de uma estratégia de transição ecológica, em busca de um futuro menos dependente dos combustíveis fósseis, mais inclusivo e resiliente.
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