Acredito fortemente na ideia de que a melhor forma de mudar é criar um novo sistema que torne o sistema antigo obsoleto. Apenas lutar contra o sistema antigo não costuma funcionar, além de desconsiderar os pontos positivos daquele sistema.
Quando pensamos no sistema econômico, por exemplo, ele hoje é bastante distorcido e não funciona mais para criar bem estar para todos. No entanto, existem vários mecanismos nesse sistema que são bastante inteligentes e que poderiam ser incorporados em um novo sistema.
Empreendedores sociais têm criado muitos sistemas alternativos. Novas formas de prover educação, como a Geekie, novos serviços financeiros, como a Avante, novas formas de acessar serviços médicos, como a tem.saúde.
No Impact Hub, desenvolvemos, junto com muitos outros, alguns novos sistemas. Uma nova forma de pensar negócios, colocando eles a serviço das pessoas e do planeta, um novo espaço de trabalho, que fomenta a colaboração e a conexão.
Temos avançado bastante nessas áreas, hoje temos um montante de mais de U$ 700 bilhões sendo investidos em negócios de impacto e os espaços de coworking se tornaram populares em todas as grandes cidades do mundo.
Agora sinto que precisamos de mudanças mais radicais para lidar com o que o mundo está nos trazendo, crises globais de saúde e catástrofes ambientais cada vez maiores.
Para mim, a mudança mais radical que podemos fazer começa por nós mesmos.
Quais são as nossas crenças? O que nos move? O que é importante para cada um de nós? E como reflito isso no meu dia a dia, nas minhas relações, no local onde moro, na forma como eu trabalho e consumo? Quais são meus hábitos, quais são os meus padrões que impedem uma mudança mais profunda em direção ao melhor ser humano que eu posso ser?
Essas transformações são as mais difíceis de fazer, porque não podemos terceirizá-las, não podemos colocar a culpa na economia, na política, no partido a ou b. São mudanças que dependem só de nós mesmos.
Acredito que a pandemia fez esse convite para todos nós, alguns receberam um convite mais amigável, outros, um alerta de saúde afetada, vivendo lutos próximos ou perdendo seu trabalho e renda de um dia para o outro.
Nesse processo, a desigualdade social, racial e de gênero ficou escancarada e a crise está afetando muito mais uns do que outros, mas também deixou clara a nossa interdependência e que está cada vez mais difícil, mesmo com muito dinheiro, se proteger de uma pandemia ou de catástrofes ambientais.
Com a crise na saúde tendo impacto direto no número de doentes, de mortes, de desempregados e de pessoas sofrendo com doenças mentais, a pressão está ainda maior sobre aqueles que vinham trabalhando para curar a sociedade, sejam os terapeutas, profissionais de saúde ou empreendedores sociais.
Todos, inclusive as pessoas que já estavam numa jornada de trabalhos com propósito, precisam repensar como fazem as coisas, se nesse momento não deveriam fazer menos, mas com mais qualidade e impacto.
Só realizando essas mudanças internas poderemos dar conta de voltar a sonhar um novo mundo mais sustentável, belo e porque não, radicalmente melhor do que o que vivíamos antes.
Nesse processo, podemos criar novos sistemas de nos relacionar, viver, trabalhar, que tornem os sistemas antigos obsoletos e possamos sair dessa crise melhor como sociedade e honrando todas as vidas perdidas.
O convite está aí, caberá a cada um de nós ser a melhor versão de si mesmo para criarmos o mundo no qual sonhamos viver.
Texto Escrito por Henrique Bussacos
Cofundador do Impact Hub São Paulo, Floripa e Manaus, é responsável por parcerias estratégicas do Impact Hub na América Latina.
Artigo publicado pela Folha de São Paulo, dia 16 de Julho de 2020.
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