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A grande oportunidade chamada feedback

Por: Lizandra Barbuto – Gerente de Pessoas da Raízes DS

Desde sempre trabalho com pessoas para estarem em relações sólidas, superar conflitos com outros e consigo mesmo. Enfim, no desenvolvimento do Ser. O desafio maior que encontro é nos processos de retroalimentação, em inglês já incorporado na língua portuguesa: o Feedback.

Estar disponível a todas as formas em que o feedback chega até você é o que nos leva a interagir com o mundo e compreende-lo, assim como compreender a si mesmo – talvez o mais importante. O que torna esse processo desafiador é ter que entrar em contato com algum aspecto vulnerável e até mesmo que esteja inconscientemente escondendo do mundo.

Então, pode ser bastante doloroso quando o outro apresenta essa vulnerabilidade. Como defesa, isso pode ser “levado para o pessoal”, como dizem. E fazer quem recebeu esse parecer sentir-se mal, criando novas defesas. Porém, e se mudarmos o significado do feedback?

Talvez o processo possa se tornar natural, como uma parte da vida. Afinal, ele acontece o tempo todo, no meu corpo biológico, psíquico e entre as relações com os outros e com o ambiente. Portanto, é preciso estar atento para entender o que chega em você e como irá responder a tal estímulo, isto é: estar no fluxo da vida e nos constantes processos de retroalimentação.

Feedback em si mesmo

Os processos de feedback em si mesmo podem não ter a ver com os outros, mas sim entre você, seu corpo, sua mente e emoções. Estar ciente disso é se cuidar, se conhecer.

Compreender os próprios estímulos é uma questão de autocuidado, como por exemplo, você bebe água quando tem sede? Esse simples ato demanda uma percepção de si mesmo. Duvide ou não, muitas pessoas não se dão conta de que estão com sede, se dando conta desse simples ato quando há algum problema a sanar no organismo.

Outra percepção de si mesmo pode ser mais profunda e necessária. Como quando às vezes você está sentindo ansiedade, cansaço, irritação, pode ser somente sua vontade de estar sozinho, curtindo o que gosta sendo companhia de você mesmo para integrar sentimentos e percepções.

Há tantos estímulos que nos chegam que, se não há atenção sobre si mesmo para dar se conta do que te passa, não poderá buscar a melhor resposta. Sem ação não há como continuar no ciclo de retroalimentação. Por isso, o primeiro passo é olhar e compreender a si mesmo para interagir de forma autêntica e honesta com o mundo externo.

Feedback com os outros

O outro nível de feedback é as pessoas. Diria que com todas as pessoas com quem se relaciona ou até mesmo quem passa pela sua vida, ainda que momentaneamente.

Por exemplo, quando alguém te corta no trânsito ou fura seu lugar na fila, isso é um estímulo que pode gerar uma resposta. Você pode ficar incomodado e, por vezes, deixa passar com uma respiração profunda, entendendo que talvez aquela pessoa tenha um problema que precisa ser resolvido. Outro cenário é você se enfurecer e causar uma situação de conflito com diversas consequências, motivo de
muitas notícias no jornal.

Outro exemplo é receber uma gentileza de alguém. Será que você tem prestado atenção nas suas respostas a esse tipo de atitude?
Estar atento a si em situações corriqueiras da vida pode ser uma boa forma de se desenvolver como Ser. Há feedbacks o tempo todo nas relações de trabalho, sejam eles estruturados ou não. Se você está atento aos seus processos internos – físicos, emocionais e psíquicos – estará muito mais disponível e será mais útil no âmbito profissional.

Nesses ambientes está em jogo saber, receber e aproveitar a oportunidade que recebe. Além de oferecer o mesmo aos outros. Para evitar mal entendidos, o esforço deve ser em compreender o feedback como uma grande oportunidade.

Aqui vão algumas dicas para aplicar nesse processo. E, a cada ciclo, você poderá criar e implementar suas próprias estratégias. Desfrute a grande oportunidade de estar em relação consigo mesmo e com outros para aprender e se desenvolver sempre.

Para receber feedback

1. Escute – Isso significa estar presente, sem julgar e encontrar justificativas e respostas imediatas para o que estiver recebendo.

2. Esteja consciente das respostas – Se dar tempo para assimilar, perceber o que passa no seu corpo, elaborar o que sente antes de oferecer uma resposta.

3. Esteja aberto – O que chega pode ser uma nova e oportuna perspectiva, assim, se estiver aberto, poderá pensar e compreender.

4. Compreenda a mensagem – Tenha certeza que entendeu. Caso tenha dúvida, pergunte. O diálogo é uma maravilhosa ferramenta para aprofundar relações. Não interprete, compreenda o que o outro quer dizer desde a perspectiva dele.

5. Dê tempo para aprofundar e refletir para decidir o que fazer – Receber um feedback é somente uma perspectiva de uma vasta gama de variáveis. Considere isso. Caso discorde, pode pedir a perspectiva de outra pessoa, por exemplo. A escolha do que fazer com o que recebe é
somente sua.

6. Faça um acompanhamento – Acompanhar o processo de feedback e melhorias pode ser feito de infinitas maneiras. Pode ser simplesmente a implementação das sugestões fornecidas a você. pode ser uma outra reunião para refletir sobre estratégias, pode ser definir uma forma de melhorar algum aspecto pessoal. O importante é acompanhar o processo com consciência do que está sendo feito.

Para oferecer feedback

Oferecer feedback é como dar um presente, cuidar em como será entregue é um passo importante. Considere os fatos, não expresse como acusação, mas sim como uma perspectiva que pode levar o outro a ver de forma mais ampla. Priorize as ideias e limite às questões mais importantes, pois muitas informações ao mesmo tempo podem ser opressoras a quem recebe. Desta maneira, causando o efeito contrário ao invés de fazer determinada situação melhorar, poderá regredir.

  • Foque no comportamento e não em interpretações pessoais – Começar pelo comportamento que observa e como é sua visão disso, perguntando o que é para o outro e como ele entende seu feedback é uma abertura ao diálogo para clarear o que deve de fato ser melhorado, sem interpretações.
  • Equilibre as informações – Comece com o que aprecia, na sequência, incluindo o que pode ser melhorado. Assim, o outro estará mais aberto a receber, já que estará claro que o que faz bem também é visto.
  • Seja específico – Comentários genéricos podem ser confusos, principalmente para definir as estratégias de como melhorar. Além disso, você pode oferecer também possibilidades para criar as estratégias.
  • Seja realista – O mais interessante do feedback é ser uma oportunidade de andar para frente, de melhorar. Assim, não peça para o outro algo impossível de ser realizado, que está fora do controle de quem recebe.
  • Esteja atento ao momento certo – O tempo vale tanto para um momento apropriado – com tempo suficiente para abrir e fechar uma conversa – quanto para o assunto propriamente dito. Não se deve esperar muito para reportar sobre a situação específica para melhorar. Um feedback atrasado pode causar sentimentos de culpa e ressentimento em quem recebe se a oportunidade de melhoria já passou.
  • Ofereça suporte – Como seres em constante mudança e em potencial desenvolvimento, deve- se ver o feedback como um processo contínuo, não como um evento único. Faça um esforço consciente para fazer o acompanhamento. Informe que você está disponível se tiverem dúvidas.

Com essas orientações, espero poder contribuir para processos mais proveitosos e grandes
oportunidades de feedback em todas as relações.

Leia também: Lidando com a minha síndrome da Impostora

Referências
Dempsey, J.V. Sales, G.C. Sales. Interactive Instruction and Feedback. Educational Technology
Publication. NJ: Englewood Cliffs. 1993.
Johnson,D. Johnson, F.P. Joing Together: Group theory and group skills. Third Edition. Prentice –
Hall International Editions. 1987.
London, M. (Job Feedback: Giving, Seeking, and Using Feedback for Performance Improvement.
Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum Associates. 1997.
McGill, I. and L. Beaty (1995) Action Learning. 2nd Ed. London: Kogan Page Ltd.
Stone, D. Patton, B. Heen, S. Conversas difíceis – Como argumentar sobre questões importantes.
Ed. Elsevier. 2011.

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