Por que investir em inovação social?

Por André Maciel – designer de processos de interação de grupos, consultor e Sócio-Diretor do Impact Hub

Investir em Inovação Social é chave para prosperidade. Hoje, nossa sociedade é extremamente complexa. Vivemos em um só planeta, dividido em continentes, países, estados, regiões, cidades, bairros, famílias e interagimos uns com os outros em ambientes naturais e construídos.

Organizamos diferentes sistemas para suportar esta sociedade, como os sistemas de governo, justiça, transporte, educação, saúde, economia, informação, etc. No entanto, estes sistemas muitas vezes não funcionam para todos e acabam por gerar problemas como pobreza, desemprego, discriminação, violência, falta de mobilidade urbana, degradação ambiental, extinção de espécies, perdas de patrimônio cultural, etc.

É exatamente na busca por soluções a estes problemas que se encontra a Inovação Social. Apesar de um termo com ares de novidade, é uma prática realizada há bastante tempo. Com o aumento da nossa complexidade como sociedade, criávamos novos mecanismos e soluções para novos (ou antigos) problemas.

O termo foi cunhado por um grupo que quis dar “nome aos bois”. A inovação social é uma solução nova para uma questão da sociedade, que é mais efetiva, eficiente, sustentável e justa que soluções já existentes e para as quais o valor criado beneficia mais a sociedade como um todo do que indivíduos em particular. Este é o conceito utilizado pela Standford Social Innovation Review (SSIR), provavelmente a principal publicação sobre o tema.

A boa notícia é que a Inovação Social tem se tornado cada vez mais relevante e ganhado força. Cada vez mais pessoas e organizações têm se dedicado a realizar mudanças positivas, atacando os problemas de nossa sociedade pela raiz e tentando alterar a maneira como nossos sistemas atuais funcionam.

Podemos encontrar bons exemplos no governo, empresas, grupos e movimentos sociais. Alguns mais famosos, como o microcrédito que mudou o sistema de crédito financeiro em diversas regiões, tendo Muhammed Yunus como seu grande ícone, e outros ainda pouco conhecidos, como o Full Circle BH, liderado pelo Travis Higgins, membro do Impact Hub, que busca criar novos sistemas de gestão e produção para zerar o desperdício, a chamada “economia circular”.

Diversos movimentos também têm investido em mudanças, como por exemplo em Belo Horizonte os diversos grupos de ciclistas que têm levantado a bandeira da mobilidade urbana e se organizado em grupos como a Associação BH em Ciclo e GT Pedala, e conquistado voz no debate de políticas públicas e melhores práticas para o uso de bicicletas na locomoção dentro da cidade.

Ao falarmos de mudanças sistêmicas, o governo tem um poder (e responsabilidade) fundamental para a alavancagem de inovações sociais. Recentemente a Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu que o casamento entre pessoas do mesmo sexo é garantido pela Constituição em todo o país, este reconhecimento legal provoca uma mudança sistêmica nos direitos civis de uma significativa parte da população. Outro caso interessante é de uma iniciativa recente cuja a ambição é de “mudar o Brasil por dentro”, o movimento chamado Guerrilha do Servidor tem buscado trazer inovação para as práticas do serviço público.

Isso é muito positivo, mas temos um desafio. Se olharmos os casos de sucesso de inovação social dos últimos 30 anos, eles levam um bom tempo para ser tornarem escaláveis e terem um impacto grande. É necessário um compromisso de longo prazo em uma jornada em que há mais falhas e “nãos” do que acertos e aceitação.

Neste contexto, um combustível importante para manter a energia, principalmente para os negócios que buscam inovação social, é o investimento de impacto. No Brasil, este é ainda um mercado nascente, mas tem avançado. Cinco anos atrás, apenas poucos atores identificavam-se como investidores de impacto, muito poucas organizações estavam prontas para se relacionarem com investidores, e praticamente não havia oportunidade de co-investimento. Um forte aumento no número de investidores e na quantidade de capital, uma maior coordenação entre os atores e uma força de trabalho mais profissional no setor, facilitaram o desenvolvimento do investimento de impacto. Estas são algumas das conclusões do “Mapa do Setor de Investimento de Impacto no Brasil”, lançado pela Aspen Network of Development Entrepreneurs (ANDE), LGT Venture Philanthropy, Quintessa Partners e University of St. Gallen.

As áreas prioritárias de investimento incluem os setores de educação, inclusão financeira e saúde, seguidos por habitação, prevenção de poluição, gestão de resíduos e energia renovável. As expectativas de retorno financeiro podem ser tão altas quanto aquelas verificadas nos setores tradicionais de Private Equity e Venture Capital. Expectativas mais baixas são observadas em investidores com missões sociais mais fortes ou que possuem uma abordagem filantrópica. Apesar do aumento do número de playersno mercado de investimento de impacto, o número de transações é muito baixo e faltam ainda grandes casos de sucesso brasileiros.

Nos últimos anos eu tive contato com centenas de empreendedores que, nadando contra a maré, buscam emplacar suas inovações sociais. Aqui no Impact Hub, convivemos com inovadores sociais desde 2005, em Londres, e a partir de 2012 aqui em Belo Horizonte. Oferecemos espaço para trabalharem juntos e buscamos criar um ambiente de suporte, para que possam se reconhecer como parte de uma comunidade ampliada e manter sua energia para a concretização do seu impacto positivo.

É necessário investirmos nossos talentos, tempo e capital no desenvolvimento de iniciativas que evoluam nossos falhos sistemas atuais. O recém falecido John Nash ganhou um prêmio Nobel de economia ao atualizar a teoria de Adam Smith. Smith dizia que “os melhores resultados vêm de cada um em um grupo fazendo o melhor para si, a ambição individual servia o bem comum”, ou seja, cada um por si e todos se sairão bem. Nash introduz a teoria do equilíbrio de jogos, dizendo: “a única forma de ganhar é querer o melhor para si mesmo e também para o grupo”, ou seja, cada um por si e por todos. Este é o desafio do nosso tempo, redesenhar o mundo para que funcione para todos.

Fonte: Site do SIMI (Sistema Mineiro de Inovação)

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