decisões em grupo

Decisões em grupo. Por que é tão complexo?

Todos os dias tomamos decisões. Na verdade, o tempo todo. Desde quando escolhemos nos levantar da cama quando toca o despertador, ou enrolar um pouco mais. E sempre teremos que lidar com o impacto de nossas escolhas: descansar mais o corpo ou chegar atrasado em uma reunião, qual será o menor ou maior impacto? Em situações difíceis, especialmente que envolvem outras pessoas, devemos nos posicionar, assumindo os riscos e consequências. Vale destacar: não decidir também é uma tomada de decisão. Mas, e quando falamos em tomar decisões em grupo, por que isso é tão complexo?

Grupos são compostos por indivíduos, e indivíduos são seres humanos complexos, por si só. Portanto, podemos imaginar a complexidade de um processo decisório em grupo. Seja quando a família se reúne para decidir onde vai passar as férias, e cada um tem um desejo diferente, ou quando a equipe de trabalho precisa definir sobre a volta ou não do trabalho presencial, seus impactos e riscos.

Não importa o tamanho da decisão ou o grau de complexidade inserido, alguns elementos sempre estarão presentes. Aqui iremos analisar quais os elementos chaves que podem nos ajudar a desenvolver um processo de grupo mais eficaz e participativo.

Primeiramente precisamos considerar que nós, seres humanos, somos compostos por três forças interiores: nosso pensar, o nosso sentir e o nosso querer ou agir no mundo.  É a combinação destes três elementos faz com que cada individualidade seja única. Vejamos:

Pensar

No campo do PENSAR estão as nossas ideias, nossos conceitos (e pré-conceitos), nossos valores, nossa forma de ver e compreender o mundo. O que carregamos no passado até o momento presente, e como esse pensar foi sendo construído a partir da nossa criação, nossa hereditariedade, nossa formação e contato com o mundo.

Sentir

No campo do SENTIR, estão os nossos sentimentos, nossas emoções, e também a nossa intuição. A forma como nos relacionamos com os outros, aquela sensação, muitas vezes não explicada, mas que pode nos atrair ou nos distanciar de uma pessoa.

Querer

No campo do QUERER, também chamado de AGIR, está a nossa força de vontade, que nos leva a ação. A forma que nos expressamos no mundo, a partir de nossa atuação e nossas práticas. Essas ações podem ser conscientes, quando já estamos em um nível mais avançado de auto desenvolvimento, ou elas podem ainda estar em um nível imaturo, baseadas no nosso impulso e instinto.

O que percebemos é que, naturalmente, nos relacionamos pelo PENSAR e pelo AGIR, ou seja: eu defendo as minhas ideias e a minha visão de mundo e ajo de acordo com os meus pensamentos e entendimentos. Dessa forma, há pouca abertura para de fato ouvir o outro, se abrir para diferentes pontos de vistas e conhecer outras realidades. Mas, é justamente quando  eu me abro, e acolho o diferente, que ele toca diretamente no meu SENTIR, e eu começo a gerar empatia e conexão com o outro à minha frente.

Quantas vezes você já mudou a sua forma de pensar sobre aquela outra pessoa depois de ouvir a história de vida dela? Ou as razões genuínas dela ter tudo uma determinada atitude?

Quando eu demonstro interesse pelo outro, isso me leva a revisitar o meu PENSAR e a questionar a minha verdade. Eu começo a perceber que existem várias formas de se enxergar cada contexto e o quanto eu estou deixando de ampliar a minha visão de mundo quando não escuto verdadeiramente o outro. E se esse novo olhar faz sentido, começo também a questionar os meus atos, a minha forma de AGIR, e começo a experimentar novas formas de estar no mundo, a partir da interação com os outros seres humanos.

Passo a olhar de um lugar onde eu reconheço a minha verdade, mas sei que cada um tem a sua e, se vamos conviver e atuar em grupo, ou mesmo em sociedade, precisamos verdadeiramente aprender a olhar uns para os outros.

E quando todos essas individualidades se juntam em torno de um objetivo comum, como isso se manifesta? Como cuidar de tantos PENSARES, SENTIRES, E AGIRES diferentes?

No campo do PENSAR, precisamos cuidar do conteúdo. Qual o assunto sobre o qual precisamos decidir? Quem tem conhecimento sobre o tema? Quem são as pessoas fundamentais a serem envolvidas no processo? Como levantar o histórico da situação, a partir dos diferentes pontos de vistas? Como as diferentes percepções podem contribuir para essa tomada de decisão? Temos  que clarear nosso objetivo comum nos organizar para alcançá-lo.

No campo do SENTIR, precisamos cuidar da nossa interação. Como se da a relação entre os componentes do grupo, para trabalharmos em prol desse objetivo? Temos um ambiente de confiança para nos colocar, expressar nossos sentimentos? Sentimos que somos todos parte do processo, somos realmente um grupo trabalhando em conjunto? Eu sinto que a minha opinião, mesmo que divergente, é respeitada pelo grupo? Eu consigo acolher um ponto de vista diferente do meu, e buscar integra-lo, quando percebo que é para o bem do grupo? Temos que aprender a criar um campo de abertura, coragem e confiança para que a interação ocorra da melhor maneira, e as pessoas possam se colocar a partir de suas verdades, mas também a partir de uma intenção compartilhada.

No campo do QUERER, ou AGIR, focamos nos procedimentos. Qual será o melhor formato para tomar decisões? Vamos nos reunir presencialmente? É possível fazer virtualmente? Devemos fazer uma pesquisa prévia? Como termos todas as regiões representadas? Quanto tempo precisamos para a reunião? Teremos um facilitador para nos apoiar? Quem fará o registro? Qual será a entrega do nosso processo? Como isso será divulgado para os demais do grupo ou da organização, que não estiverem presentes? Precisamos cuidar aqui de todos os procedimentos pré, durante e após o processo de tomada de decisões.

Eficiente e participativo

O processo de melhoria das tomadas de decisões de um grupo é um esforço contínuo, exige desenvolvimento e maturidade de seus participantes, para então se alcançar maturidade do grupo. Pode ser um processo longo, mas que a cada novo encontro se percebe os ganhos, tanto na produtividade e eficácia do trabalho, quanto nas relações interpessoais. 

Leia também: A nova forma de fazer networking

Autor

  • Elisa Alkmim

    Elisa é facilitadora e consultora de processos de desenvolvimento humano e organizacional. Nos últimos anos se dedicou aos temas da economia, finanças e nossa relação com o dinheiro, e como isso impacta em nossas vidas e na sociedade. Participou da criação a Rede Economia Viva e é co-fundadora da ComViver, a associação que promove o Programa Germinar no mundo. Administradora pela UFMG, com Certificação Internacional em Gestão de Projetos para o Desenvolvimento (PMD Pro), formação em metodologias de gestão de projetos participativos, Pedagogia Social e Economia Viva. Possui experiência com gestão de pessoas e processos no Brasil e no exterior.

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