O debate acerca de boas práticas de ESG (environmental, social and governance; meio ambiente, social e governança, em português) não é novidade e vem ganhando maturidade nos últimos anos em vários nichos de indústrias diferentes. Se antes era sabido que algumas ações superficiais em prol da sociedade e do meio ambiente poderiam melhorar a imagem de negócios, hoje a conversa é outra.
As empresas que não se aprofundam e não se envolvem de fato com questões relevantes para comunidades locais e para o planeta, estão ficando para trás. Nesse contexto podemos considerar grandes corporações, mas também as PME’s e os microeemprededores que, numa escala menor, tem alto poder de impacto onde atuam. De acordo com a 3ª edição do Mapa de Negócios de Impacto Socioambiental, desenvolvido pela Pipe, 55% dos empreendimentos sociais no Brasil têm entre 2 e 5 colaboradores.
Com esse amadurecimento, surgem novas vertentes que associam ESG a outras áreas que não mais devem ser vistas como opostas e sim como aliadas. Uma delas é a tecnologia e a inovação. A (r)evolução das máquinas cresce em proporções rápidas ao ponto de recalcularmos previsões a todo momento. No mesmo passo, esses mercados precisam considerar em seus processos de produção e entregas práticas sustentáveis. Se o mundo vem tentando viver de maneira mais sustentável e se alternativas menos prejudiciais existem, por que insistimos em dar espaço a quem deveria nos oferecer as soluções e não os problemas?
Reação vem do mercado financeiro
Sabe aquela máxima de “se não for por amor, vai pela dor”? Então, é assim que boa parte do mercado se comporta. Se não dói no bolso então não há mudança. Felizmente o mercado financeiro tem unido forças com entusiastas da proteção do meio ambiente e com isso estratégias vêm sendo colocadas em prática. Prova disso é a alta considerável de investimentos focados em ESG. Em outubro de 2021, Fábio Gallo, colunista do Estadão e professor de Finanças da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), publicou um raio X produzido pelas empresas Kiplinger e Domini Impact Investments que apontou que 70% dos investidores ouvidos consideram as medidas sociais, ambientais e de governanças das empresas na hora de investir.
Investidores têm privilegiado empresas que possuem certificados e selos de validação de ações sustentáveis nas avaliações de acesso a crédito, captação de grandes investidores institucionais e a presença em fundos de destaque. Assim, fica cada vez mais claro que ser responsável nas três esferas ESG agrega valor e traz reconhecimento a quem aposta em iniciativas com este viés.
Paralelo a isso há também grandes investimentos sendo feitos em inovação e tecnologia voltadas para soluções sustentáveis como, por exemplo, em cadeias de produção que envolvem transporte, utilização de recursos naturais, mão-de-obra e logística. Fica cada vez mais evidente que concentrar esforços nos pilares da sigla é, além de responsável, lucrativo.
Mas, para que o trabalho seja de fato com foco em soluções é preciso ter amparo metodológico e de processos que envolvem o desenvolvimento sustentável e transparente. E esse talvez seja o grande ponto de melhoria em muitos negócios atualmente. De acordo com uma pesquisa do Sebrae, de 2018, apenas 16% dos pequenos negócios desenvolvem projetos de sustentabilidade com supervisão de resultados. Outro dado que reforça essa análise é que mais da metade (54%) faz ações isoladas, esporádicas e sem planejamento, o que comprova uma grande intenção de comprometimento que não se traduz na prática.
Qual caminho tomar?
Entender que ESG não é uma via única e isolada de todas as outras áreas é um bom começo. Abrir os olhos para o mercado de startups, campo bastante fértil para novas ideias e com um público mais aberto ao debate ambiental e social.
Para colocar em números, o Distrito Dataminer realizou o estudo Inside ESG Tech no Brasil e encontrou 740 startups atuando em soluções das áreas do ESG, incluindo o segmento B2B. Dessas empresas, 260 já receberam mais de 1 bilhão de dólares a partir da gestão de projetos de impacto e que também atuam em questões éticas e de transparência. No ano de 2021, o volume investido ultrapassou US$ 89,8 milhões.
Cabe, então, aos empreendedores, investidores, cientistas e especialistas em tecnologia e ESG criarem pontes e conexões promissoras para que todos utilizem os recursos, intelectuais e naturais, que nos levam ao futuro sustentável que desejamos. Dá para lucrar, evoluir e cuidar, tudo ao mesmo tudo.
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