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Vamos falar sobre a mudança do clima em Belo Horizonte?

Imagino que você, assim como nós, já sabe que a emergência climática global é um consenso científico. Prova disto é que os eventos climáticos extremos estão cada vez mais recorrentes, mais intensos e afetando mais lugares e pessoas. O que ainda não é claro para muita gente é a urgência da mudança necessária para que este cenário melhore. E já que todos nós somos parte do problema, que tal fazer parte também da solução? Neste texto, vamos apontar caminhos possíveis, relatando o que já foi trilhado neste sentido em Belo Horizonte e quais os espaços para que todas as pessoas participem e se engajem nas soluções.

As emissões de gases de efeito estufa (os GEE) – por muito tempo identificadas como a causa desse grande problema e foco da preocupação dos governos – não é a única, e talvez nem a principal, ação de mitigação possível. As consequências da emergência climática são difusas pelo planeta, sendo percebidas principalmente nas cidades – devido à concentração de pessoas – e pelas populações mais vulneráveis. Agir nos efeitos da emergência climática com estratégias de adaptação é urgente e tem tudo a ver com as cidades, principalmente aqui no Brasil. Além da mitigação e adaptação, temos também que pensar em resiliência, agindo para contornar os efeitos adversos já ocorridos, tornando a cidade melhor e promovendo o bem-estar das pessoas mais afetadas.

Em Belo Horizonte, de onde falamos, temos um dos poucos casos brasileiros de um município com avanços em políticas de ação climática. Desde 2006 o município conta com uma instância de governança institucional para a discussão sobre o tema: o Comitê Municipal de Mudanças Climáticas e Ecoeficiência (CMMCE). Lá se reúnem órgãos do governo, sociedade civil, academia e iniciativa privada para discutir e propor ações de políticas públicas capazes de contribuir para que a cidade enfrente de maneira mais inteligente a crise climática. De lá para cá, o município buscou se integrar em entidades internacionais de cidades pelo clima e desenvolveu uma série de estudos e propostas, acompanhadas pelo CMMCE. De toda essa bagagem, destacamos a seguir o Plano Local de Ação Climática, o PLAC, publicado em 2022.

O PLAC possui três eixos nos quais se distribuem 16 ações, 89 subações, e mais de 100 metas, com prazos previstos até 2050. O nome dos eixos dá o tom dos objetivos finais deste plano: i) Mais Vozes, Menos Desigualdade; ii) Mais Vida, Menos Vulnerabilidade; e iii) Mais Verde, Menos Emissões.

Entre as ações previstas, existem algumas voltadas à disseminação de informação sobre a emergência climática, como por exemplo a Virada Climática. A Virada Climática foi proposta por representantes da sociedade civil no CMMCE, e integrada ao PLAC e ao calendário de eventos oficial da prefeitura. O principal objetivo do encontro é promover a participação informada e qualificada da população belorizontina nas políticas climáticas da cidade, transpondo os muros da participação institucional e dando visibilidade para todo mundo que já está fazendo a diferença.

A realização da sua primeira edição, em 2023, foi coordenada e realizada pela sociedade civil de modo independente, sem a participação da prefeitura. Desta experiência, constitui-se o Movimento da Virada Climática, que integra pessoas e organizações, formais e informais, que acreditam na disseminação de informação como chave para a atingirmos a resiliência e a justiça climática na nossa cidade.

Esses são os três princípios que orientam o Movimento:

  1. Com informação. Apoiamos e consideramos a divulgação científica para a promoção da educação climática e democratização do conhecimento científico, essenciais no enfrentamento da crise climática.
  2. Para resiliência. Para além de “frear” as mudanças do clima, o fato que já as enfrentamos diariamente urge pelo desenvolvimento de ações de adaptação e resiliência nas nossas cidades. É essencial que estejamos preparados para as consequências que crescem a cada aumento na temperatura do planeta, criando e apoiando soluções que promovam resiliência com a construção de uma cidade justa, inclusiva, sustentável, que valorize a biodiversidade e atente para a saúde coletiva.
  3. Por justiça climática! A crise climática afeta todas as pessoas, mas de forma heterogênea e desigual. A inclusão, democracia e diversidade deverão estar em evidência nas nossas atividades, atendendo a acessibilidade a todas as pessoas, independente de seu gênero, raça, idade, características físicas e condição social. Sempre endossamos a luta contra o racismo ambiental entre outras diversas lutas sociais que atravessam e são agravadas pela crise climática.

A Virada Climática já aconteceu duas vezes. A primeira edição foi em novembro de 2023, com o tema “formas de adiar o fim do mundo”, e contou com programação em dois dias. Foram 31 atividades, entre palestras, apresentações culturais, artísticas e ritualísticas, e oficinas para todas as idades. O evento foi realizado no Parque Municipal, no coração da cidade, gerando visibilidade local, regional e nacional. Essa primeira edição foi matéria de reportagem especial no Jornal Nacional e reconhecida com o Prêmio Descarbonário em  2024, sendo eleito como melhor projeto de ação climática do ano pelo Climate Reality Project Brasil.

A edição de 2024 aconteceu no dia 08 de junho, como uma das programações do Festival do Clima – semana do meio ambiente de 2024 promovida pela prefeitura. O que já tinha sido um grande evento em 2023 ficou ainda maior, e como tema foi escolhido a “cidadania climática”. A Virada Climática 2024 contou com mais de 50 atividades no Parque Municipal, propostas por coletivos e pessoas da sociedade civil e empresas privadas, além de uma roda de conversa com candidatos do executivo e legislativo de Belo Horizonte sobre as políticas climáticas da cidade e perspectivas para o futuro.

Outra atividade realizada durante a edição de 2024 foi a apresentação do Plano Local de Ação Climática de Belo Horizonte com uma dinâmica de priorização de temas mais importantes para a sociedade civil, pela sociedade civil. A atividade teve o propósito de aproximar o plano à realidade vivida pelas pessoas na cidade. Como forma de ampliar o debate e permitir que mais pessoas possam conhecer e opinar sobre o PLAC, foi feito também um formulário online que ficará disponível por mais alguns dias.

Para participar é só acessar esse link aqui. Bora ser a virada de chave que BH precisa para enfrentar a mudança climática?

Autores

  • Julia Espeschit

    Colaboradora do Movimento Virada Climática, mãe, mestre em administração pública e consultora de sustentabilidade.

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  • Mariana Borges

    Colaboradora do Movimento Virada Climática, arquiteta-urbanista, estudante de mestrado da Fundação João Pinheiro e ambientalista.

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