A síndrome da Impostora e a minha sensação de fraude ao escrever esse texto.
Quando o time do Impact Hub BH me convidou para escrever mensalmente sobre assuntos do mundo empreendedor eu aceitei na hora, afinal amo o HUB desde 2014 e dificilmente falo não para algum convite delas. Mas assim que dei o meu sim fiquei pensando: “mas uai gente, o que tenho para falar? Eu nunca fiz um curso formal de empreendedorismo, ou gestão, sou ‘só’ uma psicóloga”. Assim que percebi esses pensamentos eu voltei para um lugar comum, que dolorosamente eu já estive antes. Pensei as mesmas coisas quando fui convidada pra falar no TEDx ou para palestrar na Disney. Você já se sentiu assim diante de um convite para trabalho que considerava grande e importante? Esse primeiro texto é exatamente sobre isso.
Hoje vamos falar sobre a síndrome da impostora!
De acordo com o sociólogo da Universidade Autônoma de Madrid, Jose A. M. Vela, “a Síndrome da Impostora corresponde a essa autopercepção pela qual uma pessoa se considera menos qualificada para uma determinada função, cargo ou desempenho que seus companheiros”.
Este fenômeno psicológico conhecido como síndrome da impostora, reflete a crença de que você é um fracasso e incompetente, apesar das evidências indicarem sua capacidade e suas habilidades, demonstrando que você é bem sucedida. Ainda assim, você se sente uma fraude.
Se eu dei uma palestra na Disney, todo mundo pode dar. Se eu sou uma Ted Speaker, isso não deve ser tão difícil, afinal.
Todos os dias observo mulheres que admiro muito ao meu redor com essa mesma sensação de impostora, de fraude. Acham que suas conquistas muitas vezes foram por sorte. Isso faz com que elas se esforcem para trabalhar cada vez mais para se equiparar com outros profissionais, prejudicando sua saúde mental e seus relacionamentos pela sobrecarga de trabalho. Como elas podem se ver tão diferente do que eu as vejo? Como pode eu me ver com olhos tão diferentes do que os outros me vêem?
Por que tantas mulheres têm essa sensação de se sentir impostoras em seu trabalho?
Embora não se trate de uma questão individual, mas do reflexo de um problema social, essa síndrome pode causar sofrimento psicológico. Vela explica que “a socialização diferenciada, pela qual homens e mulheres são educados em papéis distintos e em valores distintos, cria o caldo de cultura perfeito para que as mulheres sintam de forma maciça a síndrome da impostora”.
Além do sofrimento psicológico, sentir-se uma fraude pode estar impedindo você de atingir todo o seu potencial, afetando assim o seu dia-a-dia.
Diante desse cenário, pensei em algumas dicas para lidar com a síndrome da impostora:
1. Como eu disse anteriormente, já que muitas vezes outras pessoas nos valorizam mais que nós mesmas, comparar a sua autoavaliação com as opiniões que terceiras pessoas do seu entorno emitem sobre você, pode ajudar. Depois, sugiro você se perguntar se essas avaliações de desempenho em um trabalho, recomendações e reconhecimentos coincidem com a sua maneira de se ver.
2. A segunda dica vem de especialistas que insistem que é importante dar a si mesma a oportunidade de competir e não dar algo por perdido antes de começar.
3. Você conversa com suas amigas e pessoas de confiança sobre sua sensação de fraude? É essencial compartilhar os seus medos, porque ao dividi-los com alguém você se sente menos sozinha, organiza seus pensamentos e se sente acolhida. Isso tem muito poder. Converse com alguém que possa te oferecer uma escuta com afeto, sem julgamento e cobranças.
Comece a levar elogios a sério
4. Aceite os cumprimentos e os elogios genuínos e sem interesse. Pense bem em seu significado antes de não acreditar que é merecedora deles.
5. Faça mesmo antes de se sentir pronta por completo. Comece o projeto que você está planejando há meses. Um pouquinho por dia. 10 minutos por dia. Não existe momento perfeito e seu trabalho nunca será 100% perfeito. Lembrar que feito é sempre melhor e mais possível que perfeito.
6. Revisitar o que você conseguiu fazer num passado recente. Apesar de não ter ficado perfeito, você consegue valorizar esse projeto? Quais os pontos fortes?
Busque opinião de pessoas que você confia
7. Conversar com seu chefe, líder, sócio ou colega de trabalho. Peça um feedback honesto sobre seu trabalho e habilidades.
8. Terapia é um dos melhores investimentos que você pode fazer por si mesma. Autoconhecimento é um caminho que pode ser doloroso mas também bastante libertador. Existem programas para atendimentos gratuitos ou sociais dentro de Universidades.
9. Meditações guiadas para a autocompaixão já demonstram evidências científicas na diminuição de autocrítica, autoexigência e vergonha. Estudar essa temática e praticar na minha vida pessoal e no trabalho mudou a minha vida. Sério. Mas isso é papo pra outro texto ;).
10. Mesmo seguindo todas as dicas pode ser que a síndrome da impostora diminua, mas não desapareça. Está tudo bem! Diante de um desafio ou tarefa importante para você, faça o trabalho apesar da insegurança. Não espera a insegurança passar pra depois fazer. É fazendo que esses sentimentos diminuem. É se comportando diferente que os sentimentos mudam.
Pessoalmente, eu passo por isso até hoje. Mas, mesmo com esses sentimentos e pensamentos, eu não deixei de fazer o que era importante para mim, em conexão com meus valores e minha carreira. Ah! E com muita terapia… rs
Desejo que você se olhe com os olhos que sua melhor amiga te vê e não paralise. Ninguém deveria ter mais poder para fazer você se sentir bem consigo mesma do que você.
Dica de leitura para aprofundamento no tema: The Secret Thoughts of Successful Women: Why Capable People Suffer from the Impostor Syndrome and How to Thrive in Spite of It Hardcover – October 25, 2011 by Valerie Young – Dr. Young builds on decades of research studying fraudulent feelings among high achievers.
Autor
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Pollyanna Abreu é psicóloga clínica e fundadora da Não Era amor, negócio de impacto social que ajuda mulheres que estão ou saíram de relacionamentos abusivos através de metodologia especializada. Mineira, indignada com as injustiças sociais, é membra do Impact Hub Belo Horizonte desde 2014
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